quarta-feira, 16 de junho de 2010

GESSO SERIADO




A maior parte dos relatos da literatura concorda que o uso de órteses e gessos seriados facilita, em combinação com outros métodos, o desenvolvimento de padrões funcionais melhores em pacientes com espasticidade.
O gesso seriado é comumente usado após injeções de toxina botulínica tipo A com o objetivo de diminuir a espasticidade (contratura em equino) dos MMII. A razão para esta estratégia é fazer uso deste período de relaxamento muscular para alongar a musculatura dos membros inferiores (especificamente o tríceps sural). O método de realização do gesso seriado baseia-se na colocação da criança em posição pronada com o joelho flexionado a 90 graus. O gesso é aplicado com as articulações em posição neutra e com o tornozelo em máxima dorsiflexão passiva. Os gessos são trocados uma vez por semana por um período de três semanas e a cada troca há sempre necessidade de aumentar ao máximo a dorsiflexão passiva.
Muitos trabalhos na literatura discutem o uso da toxina botulínica associada ao gesso seriado. Booth M. Y. e cols. compararam pacientes que receberam tratamento com TBA e gesso e pacientes que somente receberam tratamento com gesso seriado. Os autores concluiram que o tratamento conjunto auxiliou os pacientes a atingirem melhor grau de movimentação do membro comprometido se comparado aos pacientes que receberam somente tratamento com gesso. Glanzman A. M. e cols da mesma forma concluíram em sua análise comparativa que os pacientes que receberam TBA e gesso obtiveram melhor resposta se comparados aos pacientes que receberam somente TBA. Bottos M. e cols. conlcuíram em seu trabalho que a TBA reduz a espasticidade e melhora a performance funcional da estabilidade e de marcha e que a associação da TBA e gessos seriados provê resultados mais marcantes e duradouros. Em contrapartida, Blackmore e cols. realizaram uma revisão sistemática dos efeitos do gesso associado ou não a TBA em pacientes com paralisia cerebral e pé em equino sendo sua conclusão contrária a maior parte dos relatos da literatura afirmando que não há evidência a favor e nem contrária a superioridade do uso do gesso associado a TBA. Em dezembro de 2007 foi publicado um importante estudo piloto realizado na Suíça comparando o uso precoce e tardio do gesso seriado associado a TBA que demonstrou um benefício claro na utilização do gesso seriado de forma tardia. Os autores recomendam a colocação do gesso somente 4 semanas após a aplicação da TBA na musculatura de tríceps sural. Sua argumentação baseia-se no fato de que o gesso colocado mais tardiamente ( 4 semanas X 2 semanas) evita episódios de dores intensas e desenvolve resultados mais duradouros no combate a espasticidade.
Neste apanhado geral sobre tratamento de espasticidade dos membros inferiores vale a pena ressaltar que de forma alguma tratamentos isolados alcançam objetivos ótimos. A reabilitação é um processo a longo prazo e que envolve uma complexa equipe multidisciplinar que em conjunto é capaz de proporcionar ao paciente uma melhor qualidade de vida frente a sua deficiência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário