Robert Palisano;
Peter Rosenbaum; Stephen Walter; Dianne Russell; Ellen Wood;
Barbara Galuppi
Traduzido por Erika
Hiratuka (terapeuta ocupacional e pós-graduanda do PPGEEs da
UFSCar – Brasil ) sob
orientação da Profa. Dra. Thelma Simões Matsukura)
Referência:
Dev Med Child Neurol 1997; 39:214-223
INTRODUÇÃO
& INSTRUÇÕES DE USO
O Sistema de
Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS – Gross Motor
Function
Classification System) para paralisia cerebral baseia-se no movimento iniciado
voluntariamente,
enfatizando particularmente o sentar (controle de tronco) e o andar. Ao
definirmos um Sistema
de Classificação em 5 níveis, nosso primeiro critério foi o de
que as distinções na
função motora entre os níveis fossem clinicamente significativas.
As distinções entre
os níveis de função motora são baseadas nas limitações funcionais, na
necessidade de tecnologia assistiva, incluindo aparelhos auxiliares de locomoção
(tais como andadores, muletas e bengalas) e cadeira de rodas, e, em menor grau,
na qualidade de movimento. O Nível I inclui crianças com disfunção neuromotora,
cujas limitações funcionais são menores do que aquelas normalmente associadas à
paralisia cerebral, e crianças que têm sido tradicionalmente diagnosticadas
como tendo “disfunção cerebral mínima” ou “paralisia cerebral de severidade
mínima”. As distinções entre os Níveis I e II não são, portanto, tão evidentes
quanto as distinções entre os outros níveis, especialmente para crianças com
menos de 2 anos de idade.
O foco está em
determinar qual nível melhor representa as habilidades atuais da criança e as
limitações na função motora. Enfatiza-se o desempenho habitual da criança em
casa, na escola e nos espaços comunitários. É importante, portanto, classificar
o desempenho habitual da criança (não o melhor desempenho), sem incluir
julgamentos sobre o prognóstico. Deve-se lembrar que o objetivo é classificar a
função motora grossa atual da criança, e não julgar a qualidade do movimento ou
o potencial de melhora.
As descrições dos 5
níveis são amplas e não pretendem descrever todos os aspectos da função de cada
criança. Por exemplo: um bebê com hemiplegia que é incapaz de engatinhar (sobre
mãos e joelhos), mas que por outro lado se encaixa na descrição do Nível I,
seria classificado no Nível I. A escala é ordinal, sem intenção de que as
distâncias entre os níveis sejam consideradas iguais, ou de que as crianças com
paralisia cerebral sejam distribuídas igualmente entre os 5 níveis. Um resumo
das distinções entre cada par de níveis é fornecido para ajudar a determinar
qual nível mais se aproxima da função motora grossa atual da criança.
Reconhecemos que a
classificação da função motora depende da idade, especialmente durante a fase
do bebê e a primeira infância. Para cada nível, portanto, são fornecidas
descrições separadas para crianças em diferentes faixas etárias. As habilidades
funcionais e limitações para cada intervalo de idade pretendem servir como guias;
sem serem abrangentes e sem serem consideradas normas. As crianças com menos de
dois anos devem ser consideradas na sua idade corrigida se forem prematuras.
Esforço tem sido
feito para enfatizar a função das crianças em vez de suas limitações. Desse
modo, como princípio geral, a função motora grossa das crianças que são capazes
de realizar as funções descritas em qualquer nível em particular será provavelmente
classificada neste nível ou num nível acima. Por outro lado, a função motora
grossa das crianças que não conseguem realizar as funções de um nível em particular
será provavelmente classificada num nível abaixo.
SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DA FUNÇÃO MOTORA GROSSA PARA
PARALISIA CEREBRAL (GMFCS)
Antes
do aniversário de 2 anos
Nível I Os bebês
sentam-se no chão, mantêm-se sentadas e deixam esta posição com ambas as mãos
livres para manipular objetos. Os bebês engatinham (sobre as mãos e joelhos),
puxam-se para levantar e dão passos segurando-se nos móveis. Os bebês andam
entre 18 meses e 2 anos de idade sem a necessidade de aparelhos para auxiliar a
locomoção.
Nível II Os bebês
mantêm-se sentados no chão, mas podem necessitar de ambas as mãos como apoio
para manter o equilíbrio. Os bebês rastejam em prono ou engatinham (sobre mãos
e joelhos). Os bebês podem puxar-se para ficar em pé e dar passos segurando-se
nos móveis.
Nível III Os bebês
mantêm-se sentados no chão quando há apoio na parte inferior do tronco. Os
bebês rolam e rastejam para frente em prono.
Nível IV Os bebês
apresentam controle de cabeça, mas necessitam de apoio de tronco para se
sentarem no chão. Os bebês conseguem rolar para a posição de supino e podem rolar
para a posição de prono.
Nível V As
deficiências físicas restringem o controle voluntário do movimento. Os bebês
são incapazes de manter posturas anti-gravitacionais de cabeça e tronco em
prono e sentados. Os bebês necessitam da assistência do adulto para rolar.
Entre
o segundo e o quarto aniversário
Nível I As crianças
sentam-se no chão com ambas as mãos livres para manipular objetos. Os
movimentos de sentar e levantar-se do chão são realizadas sem assistência do
adulto. As crianças andam como forma preferida de locomoção, sem a necessidade de
qualquer aparelho auxiliar de locomoção.
Nível II As crianças
sentam-se no chão, mas podem ter dificuldades de equilíbrio quando ambas as
mãos estão livres para manipular objetos. Os movimentos de sentar e deixar a
posição sentada são realizados sem assistência do adulto. As crianças puxam-se para
ficar em pé em uma superfície estável. As crianças engatinham (sobre mãos e joelhos)
com padrão alternado, andam de lado segurando-se nos móveis e andam usando
aparelhos para auxiliar a locomoção como forma preferida de locomoção.
Nível III As crianças
mantêm-se sentadas no chão freqüentemente na posição de W (sentar entre os
quadris e os joelhos em flexão e rotação interna) e podem necessitar de assistência
do adulto para assumir a posição sentada. As crianças rastejam em prono ou engatinham
(sobre as mãos e joelhos), freqüentemente sem movimentos alternados de perna,
como seus métodos principais de locomoção. As crianças podem puxar-se para levantar
em uma superfície estável e andar de lado segurando-se nos móveis por distâncias
curtas. As crianças podem andar curtas distâncias nos espaços internos usando
aparelhos auxiliares de locomoção, necessitando de assistência do adulto para direcioná-la
e virá-la.
Nível IV As crianças
sentam-se no chão quando colocadas, mas são incapazes de manter alinhamento e
equilíbrio sem o uso de suas mãos para apoio. As crianças freqüentemente
necessitam de equipamento de adaptação para sentar e ficar em pé. A locomoção
para curtas distâncias (dentro de uma sala) é alcançada por meio do rolar, rastejar
em prono ou engatinhar (sobre as mãos e joelhos) sem movimento alternado de pernas.
Nível V As
deficiências físicas restringem o controle voluntário do movimento e a
capacidade de manter
posturas anti-gravitacionais de cabeça e tronco. Todas as áreas de função
motora estão limitadas. As limitações funcionais do sentar e ficar em pé não
são
completamente
compensadas por meio do uso de adaptações e de tecnologia assistiva. Neste
nível, as crianças não mostram sinais de locomoção independente e são transportadas.
Algumas crianças atingem auto locomoção usando uma cadeira de rodas motorizada
com extensas adaptações.
Entre
o quarto e o sexto aniversário
Nível I As crianças
sentam-se na cadeira, mantêm-se sentadas e levantam-se sem a
necessidade de apoio
das mãos. As crianças saem do chão e da cadeira para a posição em pé sem a
necessidade de objetos de apoio. As crianças andam nos espaços internos e externos
e sobem escadas. Iniciam habilidades de correr e pular.
Nível II As crianças
sentam-se na cadeira com ambas as mãos livres para manipular objetos. As
crianças saem do chão e da cadeira para a posição em pé, mas freqüentemente
necessitam de superfície estável para empurrar-se e impulsionar-se para cima
com os membros superiores. As crianças andam nos espaços internos e externos, sem
a necessidade de aparelhos auxiliares de locomoção, por uma distância curta
numa superfície plana. As crianças sobem escadas segurando-se no corrimão, mas
são incapazes de correr ou pular.
Nível III As crianças
sentam-se em cadeira comum, mas podem necessitar de apoio pélvico e de tronco
para maximizar a função manual. As crianças sentam-se e levantam-se da
cadeira usando uma superfície estável para empurrar-se e impulsionar-se para cima
com os membros superiores. As crianças andam usando aparelhos auxiliares de locomoção
em superfícies planas e sobem escadas com a assistência de um adulto. As crianças
freqüentemente são transportadas quando percorrem longas distâncias e quando em
espaços externos em terrenos irregulares.
Nível IV As crianças
sentam em uma cadeira, mas precisam de um assento adaptado para controle de
tronco e para maximizar a função manual. As crianças sentam-se e levantam-se da
cadeira com a ajuda de um adulto ou de uma superfície estável para empurrar-se
ou impulsionar-se com os membros superiores. As crianças podem, na melhor das
hipóteses, andar por curtas distâncias com o andador e com supervisão do adulto,
mas têm dificuldades em virar e manter o equilíbrio em superfícies irregulares.
As crianças são transportadas na comunidade. As crianças podem alcançar auto locomoção
usando cadeira de rodas motorizada.
Nível V As
deficiências físicas restringem o controle voluntário de movimento e a capacidade
em manter posturas anti-gravitacionais de cabeça e tronco. Todas as áreas da
função motora estão
limitadas. As limitações funcionais no sentar e ficar em pé não são
completamente
compensadas por meio do uso de adaptações e tecnologia assistiva. Neste nível,
as crianças não mostram sinais de locomoção independente e são transportadas.
Algumas crianças alcançam auto locomoção usando cadeira de rodas motorizada com
extensas adaptações.
Entre
o sexto e o décimo segundo aniversário
Nível I As crianças
andam nos espaços internos e externos e sobem escadas sem limitações. As
crianças realizam habilidades motoras grossas, incluindo correr e pular, mas a
velocidade, o equilíbrio e a coordenação são reduzidos.
Nível II As crianças
andam nos espaços internos e externos e sobem escadas segurando-se
no corrimão, mas apresentam
limitações ao andar em superfícies irregulares e
inclinadas e em
espaços lotados ou restritos. As crianças, na melhor das
hipóteses,
6
apresentam capacidade
mínima para realizar habilidades motoras grossas como correr e
pular.
Nível III As crianças
andam em espaços internos e externos sobre superfícies regulares
usando aparelhos
auxiliares de locomoção. As crianças podem subir escadas segurando-se
em corrimões.
Dependendo da função dos membros superiores, as crianças manejam uma cadeira de
rodas manualmente. Podem ainda ser transportadas quando percorrem longas
distâncias e quando em espaços externos com terrenos irregulares.
Nível IV As crianças
podem manter os níveis funcionais alcançados antes dos seis anos de idade ou
depender de cadeira de rodas em casa, na escola e na comunidade. As crianças
podem alcançar auto locomoção usando cadeira de rodas motorizada.
Nível V As
deficiências físicas restringem o controle voluntário de movimento e a capacidade
para manter posturas anti-gravitacionais de cabeça e tronco. Todas as áreas
de função motora
estão limitadas. As limitações funcionais no sentar e ficar em pé não
são completamente
compensadas por meio do uso de adaptações e tecnologia assistiva.
Neste nível, as
crianças não mostram sinais de locomoção independente e são transportadas.
Algumas crianças alcançam a auto locomoção usando cadeira de rodas motorizada
com extensas adaptações.
Distinções
entre os Níveis I e II
Comparadas com as
crianças do Nível I, as crianças do Nível II mostram as seguintes
características: (1)
limitações ao realizar transições de movimento ao andar em espaços
externos e na
comunidade; (2) a necessidade por aparelhos auxiliares de locomoção quando
iniciam o andar; (3) baixa qualidade de movimento; e (4) pouca capacidade de realizar
habilidades motoras grossas assim como correr e pular.
Distinções
entre os Níveis II e III
As diferenças são
vistas no grau de realização da locomoção funcional. As crianças do Nível III
necessitam de aparelhos auxiliares de locomoção e freqüentemente de órteses
para andar, enquanto
as crianças do Nível II não necessitam de aparelhos auxiliares de
locomoção depois dos
quatro anos de idade.
7
Distinções
entre os Níveis III e IV
Há diferenças nas
capacidades de sentar e de locomoção, muitas vezes sendo necessário
o uso extensivo de
tecnologia assistiva. As crianças do nível III sentam-se sozinhas, têm
locomoção
independente no chão e andam usando aparelhos auxiliares de locomoção. As
crianças do Nível IV sentam-se de forma funcional (geralmente apoiadas), mas a locomoção
independente é muito limitada. As crianças do Nível IV geralmente são transportadas
ou usam locomoção motorizada.
Distinções
entre os Níveis IV e V
As crianças do Nível
V não têm independência nem mesmo no controle de posturas anti-gravitacionais
básicas. A auto locomoção é alcançada somente se a criança puder aprender como
operar uma cadeira de rodas motorizada.
Traduzido
por:
Erika Hiratuka,
terapeuta ocupacional e pós-graduanda do Programa de Pós-Graduação em
Educação Especial –
PPGEEs - da Universidade Federal de São Carlos, sob orientação da Profa.
Dra. Thelma Simões
Matsukura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário